A crise diplomática entre Brasil e Israel, devido a declarações do presidente Lula comparando as ações israelenses na Faixa de Gaza ao Holocausto, intensificou-se ontem com atos simbólicos de ambos os lados. Sinalizando o agravamento da situação, Lula chamou o embaixador brasileiro em Israel, Frederico Meyer, de volta a Brasília para consultas. A decisão foi tomada após reprimenda incomum das autoridades israelenses ao diplomata, que embarca hoje para o Brasil. Para Lula, conta Mônica Bergamo, Meyer foi humilhado ao ser advertido no Memorial do Holocausto. No local, o ministro israelense das Relações Exteriores, Israel Katz, fez declarações à imprensa e mostrou ao brasileiro a lista com nomes de seus familiares mortos pelo nazismo. Normalmente, esse tipo de advertência ocorre na sede da chancelaria. O episódio foi discutido no Palácio da Alvorada na manhã de ontem com os ministros Paulo Pimenta (Secom), Alexandre Padilha (Relações Institucionais), Márcio Macêdo (Secretaria-Geral), Jorge Messias (Advocacia-Geral da União) e o assessor especial da Presidência para assuntos internacionais, Celso Amorim. “A meu ver, não há de que se desculpar. O que está ocorrendo é uma barbaridade”, disse Amorim. Mais cedo, a primeira-dama, Janja, disse que Lula se referia ao “governo genocida” ao fazer suas críticas, não ao povo judeu. (Folha)
Enquanto falava com a imprensa, ao lado de Meyer, o chanceler de Israel declarou Lula “persona non grata”. Na diplomacia, isso significa que o presidente brasileiro não é bem-vindo. “Não perdoaremos e não esqueceremos — em meu nome e em nome dos cidadãos de Israel, informei ao presidente Lula que ele é uma ‘persona non grata’ em Israel até que ele peça desculpas e se retrate”, publicou também nas redes sociais. (g1)
Já o chanceler brasileiro, Mauro Vieira, convocou o embaixador israelense, Daniel Zonshine, para uma reunião ontem no Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro. Segundo interlocutores, não houve pedido de desculpas como o premiê de Israel, Benjamin Netanyahu, cobrou de Lula. Vieira usou um tom cordial, mas firme, em defesa do posicionamento adotado pelo Brasil. (CNN Brasil)
Vários diplomatas brasileiros criticaram as declarações de Lula, avaliando que ele “ultrapassou a linha vermelha”, com uma fala “infeliz” e “desastrosa”. “Um dia de vergonha para a diplomacia brasileira” e “o improviso mais infeliz de todos os improvisos do presidente”, disseram, ressaltando que, para um país que busca ser mediador de conflitos, tomar partido dessa forma é “um tiro no pé difícil de ser contornado”. (Globo)
Enquanto isso... Os Estados Unidos apresentaram pela primeira vez um projeto de resolução ao Conselho de Segurança da ONU pedindo um cessar-fogo temporário na guerra e alertando contra uma incursão terrestre em Rafah, para onde centenas de milhares de palestinos fugiram. O projeto segue uma proposta argelina que pedia um cessar-fogo imediato e que os americanos prometeram vetar. A votação ocorrerá hoje de manhã. (CNN)
Lourival Sant'Anna: “Ao comparar a criminosa campanha de Israel na Faixa de Gaza com o Holocausto, o presidente Lula não afrontou apenas os judeus, o bom senso e a imagem do Brasil, mas os interesses dos próprios palestinos. Aparentemente, a única motivação foi buscar uma propulsão no seu voo solo para se projetar como porta-voz do Sul Global. A comparação permite ao governo israelense um momento de heroísmo, colocando-o do mesmo lado das vítimas do Holocausto; e permite ao Hamas um momento de vitimização, colocando-o do mesmo lado das vítimas na Faixa de Gaza”. (Estadão)
Meio em vídeo. Existe um motivo pelo qual nunca nenhum político responsável, nenhum diplomata, jamais compara qualquer ato que esteja ocorrendo com o Holocausto. É porque nada se compara com o Holocausto. Lula não errou pouco, não. Errou muito feio. É o que pensa Pedro Doria, no Ponto de Partida. (YouTube)
FONTE: Portal "O MEIO" atraves de newsletter - 20/02/2024
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